A cardiologia fetal é a área da cardiologia pediátrica que diagnostica e trata das doenças do coração antes do nascimento. O principal instrumento desta especialidade é o ecocardiograma fetal, exame de ultra-som que estuda o coração do bebê dentro do útero materno. Aproximadamente 1 a cada 100 bebês nascidos vivos apresentam alguma anomalia do coração.
Algumas delas podem ser muito graves e levar a sintomas ainda na vida fetal ou logo após o nascimento. O diagnóstico destas anomalias antes do nascimento é muito importante pois permite que se faça uma programação para que o bebê receba o tratamento apropriado nos primeiros momentos de sua vida.
Algumas anomalias podem ser tratadas antes do nascimento, mudando o curso da gestação. É o caso das arritmias cardíacas que são alterações no número de batimentos do coração do feto. Estas alterações do ritmo são tratadas com o uso de medicação administrada para a mãe e transmitida ao feto pela placenta. Nos últimos anos alguns tipos de tratamento de cardiopatias intra-útero com o uso de agulhas e balões também têm se tornado disponível. Estas intervenções estão restritas a algumas doenças específicas que quando não tratadas apresentam uma evolução muito desfavorável.
O estudo do coração do feto deve ser realizado em todas as gestações. Toda grávida deve passar por uma série de exames durante o curso da gestação. Os exames morfológicos de 1º e 2º trimestre são fundamentais para que se levante a suspeita de anomalias cardíacas no feto.
O ultra-som morfológico de primeiro trimestre, realizado entre o início da 11ª e final da 12ª semanas de gestação, tem o papel de identificar fatores de risco para malformações congênitas e alterações cromossômicas do feto. Algumas anormalidades identificadas nesta época podem ser indicativas de anomalias cardíacas. O aumento da translucência nucal, isto é, da prega que fica atrás do pescoço do feto, pode ser indício de doença cardíaca. Também são fatores de risco para cardiopatias congênitas as alterações do fluxo de sangue no ducto venoso que é a estrutura que leva o sangue da placenta para dentro do coração fetal, e pela valva tricúspide, que leva sangue para o lado direito do coração.
O ultra-som morfológico de 2º trimestre é realizado entre em 18 e 22 semanas de gestação. Neste exame o médico deve olhar com detalhes todos os órgãos do bebê. Embora ele não seja especialista em coração, o ultrassonografista deve ter noções mínimas do funcionamento do coração fetal.
Qualquer anormalidade cardíaca observada nos exames morfológicos deve ser investigada pelo ecocardiograma fetal. Este exame é realizado pelo cardiologista fetal e permite analisar com detalhes a estrutura e o funcionamento do coração do bebê. No caso de malformações cardíacas, o especialista irá planejar junto com a família e obstetra o melhor caminho a ser tomado para que o bebê receba o tratamento adequado e no momento ideal.
Existem algumas condições clínicas da mãe e da gestação que aumentam o risco de cardiopatia no feto. A tabela abaixo dispõe estas condições em que o ecocardiograma fetal está indicado, mesmo que o ultra-som morfológico tenha sido normal.
Condições clínicas que indicam o ecocardiograma fetal
Mãe portadora de cardiopatia congênita
Pai portador de cardiopatia congênita
Filho prévio acometido com cardiopatia congênita
Mães portadoras de: Diabetes, Lupus, Fenilcetonúria
Uso de medicações como Anteconvulsivantes, Lítio, Quimioterápicos, Ácido retinóico, anticoagulantes
Infecções durante a gestação
Idade materna acima de 40 anos
Gravidez gemelar
Consanguinidade – quando os pais são da mesma família
Sopro Cardíaco: O diagnóstico pré-natal das cardiopatias congênitas tem trazido grandes avanços no tratamento de algumas anomalias que anteriormente apresentavam um evolução muito desfavorável. Esta tem sido uma área de grande destaque e crescimento no manejo das doenças cardíacas que acometem as crianças.